29.9.09

Chef Roberta Sudbrack: além da gastronomia

Jamais me esqueço de uma frase que ouvi, certa vez, Paulo Francis dizer a respeito de uma das minhas cantoras prediletas: “Billie Holiday está além da música”. Foi com esse sentimento que saí do restaurante de Roberta Sudbrack dia desses...

Eu achava que já havia me surpreendido o suficiente com a cozinha de Roberta. Ledo engano. Essa minha refeição por lá foi ainda melhor do que já havia sido a última. Pela primeira vez fui para o almoço e não para o jantar. À luz do dia, a beleza da casa fica mais evidente e o ambiente é ainda mais agradável. Pode-se apreciar melhor o colorido das flores frescas impecáveis. Além disso, o salão mais vazio, somado ao atendimento gentilíssimo dos funcionários, deixa uma inevitável sensação de acolhimento.

O que vem da cozinha só faz reforçar essa sensação. Não há excessos. Nem disfarces. No prato, somente o essencial pra lembrar aos sentidos o verdadeiro prazer de uma grande refeição. Não é preciso um esforço hercúleo pra identificar o que se come. Roberta sabe, como ninguém, abrir espaço pra que o ingrediente se revele. Ouso dizer que talvez não haja, no eixo Rio-São Paulo, uma cozinha que valorize o ingrediente como se faz ali. Delicadeza e sensibilidade estão presentes em todos os detalhes. É assim que deve ser quando se faz arte. E o que Roberta faz não pode receber outro nome. É arte.

Nosso menu-degustação começou com um solitário aspargo, reinando absoluto, escoltado apenas por algumas ervas e um delicado caramelo picante. Em seguida, o mar invadiu nossa mesa, em pratos inesquecíveis: pra mim, delicioso lagostim em lâminas de chuchu e leite de amendoim...

...pra a amiga que me acompanhava (a quem propus uma parceria nesse prato, claro!), um maravilhoso pargo acompanhado de vinagrete de maxixe e tomate, na brunoise mais perfeita e precisa que já vi.

Mais adiante, a delicada simplicidade do ravióli de abobrinha defumada.

Finalmente, o saboroso pato assado em compota de frutas secas e batatinhas croustillantes.

Eu diria que, de todo o menu, esses dois últimos foram os únicos pratos que não me tocaram profundamente.

Pra me levar de volta às nuvens, vieram as broinhas de fubá fumegantes, recheadas com doce-de-leite, evocando sensações perdidas no fundo do baú da memória gustativa. E a sutileza do sorbet de figo roxo de Valinhos. Como é possível, numa mesma mesa, tanta delicadeza?

Para o gran finale, a sobremesa que me deixa em êxtase desde a primeira vez que experimentei: tortinha de pêra com tapioca, flutuando sobre um caramelo quente estupendo.

Saímos de lá completamente sem palavras. Pra coroar a tarde, rumamos para o silêncio majestoso e as palmeiras imperiais do Jardim Botânico, logo ao lado, lugar que sempre me remete à poesia sonora do saudoso Tom Jobim, que assim como a chef Roberta Sudbrack, é daqueles brasileiros que nos fazem sentir orgulho da nossa terra.

Roberta Sudbrack - Rua Lineu de Paula Machado 916 – Jardim Botânico



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