29.3.10

Sobre a filial carioca do restaurante Eñe, dos gêmeos Torres

Em 2007, os badalados gêmeos catalães Sergio e Javier Torres, responsáveis pela cozinha do Dos Cielos, em Barcelona, lançaram-se além-mar, abrindo no Brasil, mais especificamente em São Paulo, o restaurante Eñe. A idéia era propor uma leitura moderna da cozinha espanhola. Em 2009, foi a vez de o Rio de Janeiro receber uma filial da casa, instalada no Hotel Intercontinental. Já estive no Eñe algumas vezes (uma delas na matriz paulistana, as outras na filial carioca) e confesso que, em nenhuma, saí propriamente entusiasmada pela cozinha dos gêmeos.

Devo dizer que o cenário do Eñe carioca é inspirador. A casa fica praticamente debruçada sobre as areias da praia de São Conrado.

O arquiteto Juan Pablo Rosenberg fez o dever de casa direitinho e projetou um salão que, além de lindo, não poderia estar mais integrado à natureza ao redor, o que se percebe melhor à luz do dia. Eu, que já tinha achado incrível o salão à noite, fiquei encantada com a beleza do restaurante no horário de almoço. Os janelões de vidro permitem que a luz natural invada o ambiente e a paisagem se faça ainda mais presente. Come-se praticamente dentro do mar de São Conrado... A orla do Rio de Janeiro, tão mal aproveitada, precisa de mais restaurantes que a valorizem assim.

O couvert trouxe deliciosas chistorras, linguicinha espanhola que me tira do sério...

Seguimos com uma seleção de tapas calientes. A famosa e boa versão das batatas bravas (que me parecem inspiradas nas de Sergi Arola, embora eu ainda não as tenha experimentado...). Mais uma versão de uma tapa tradicional, o polvo à galega, esta, no entanto, não tão bem sucedida. A batata estava insossa, o polvo também pedia um pouco mais de sabor. E puxar os dois juntos no palitinho não era das tarefas mais fáceis, talvez porque a batata estivesse al dente demais...

As croquetas de jamón estavam uma verdadeira delícia. E os ravioles de castanha com foie gras eu continuo achando uma das melhores coisas da casa.

Justificar

Para o principal, pedimos arrozes. Arroz negro com lulas e lagostins. Arroz de pato com feijão Santarém. Muito bons. Nada excepcional.

Para encerrar, turrón gelado com amêndoas, que achei muito gostoso, mas diria que faltou algum complemento que não apenas os fios de caramelo riscando o prato (aliás, num tipo de apresentação que acho que já deu o que tinha que dar...). E a surpreendente esfera de chocolate com café e laranja. Ao servir, o garçom derrama sobre o chocolate um molho quente de café que vai, aos poucos, perfurando a cúpula. Dentro, um leve chantilly e perfumados gomos de laranja. Divertida e saborosa, seria ainda melhor se o molho fosse mais espesso e com sabor de café mais concentrado.

Saí do Eñe feliz em poder almoçar inserida naquele cenário sensacional, mas com a mesmíssima sensação das outras visitas. A de que se trata de um bom restaurante e apenas isso. Aos meus olhos, nada de extraordinário. Talvez a dificuldade seja minha, mas até hoje, ainda não consegui enxergar os atributos que justifiquem certos elogios rasgados da crítica. Quem sabe o tempo ainda me convença do contrário...


Eñe – Av. Prefeito Mendes de Moraes 222
(no hotel Intercontinental) – São Conrado
www.enerestaurante.com.br


Bookmark and Share

Artesanato na serra revela talentos desconhecidos.

por Antonella Kann

Decididamente, acho que estou me convencendo a passar longe dos ovos de chocolate nesta Páscoa e, pior de tudo, tentando convencer outras pessoas a fazer igual. Assim, fico matutando quais seriam as alternativas para fugir da mesmice e presentear a quem de direito com alguma coisa que não tivesse cacau como ingrediente. E de preferencia, nada comestível.


Me veio à mente uma artesã chamada Maria, dona do Ateliê Maria 2000. Conheci essa simpática moça há alguns anos, desde que esbarrei acidentalmente no seu primeiro ateliê que ficava à beira da estradinha sinuosa de Araras, mas ainda assim longe de olhares curiosos.

De cara, gostei imensamente do seu trabalho, pois expressa um talento genuíno e sem pretensões, absurdamente brasileiro. As minhas peças favoritas são os imensos bonecos em papel machê, em geral personagens folclóricos, como a tradicional baiana segurando uma bandeja. Levei a minha para morar na cozinha do Rio, e uso para colocar frutas, fica um charme...


Além disso, Maria confecciona pequenas estatuetas representando santos, aqueles que vivem na boca do povo, tipo Santo Antonio, e também umas marionetes que são uma formosura só. O interessante é que voce pode pendurá-las numa viga ou numa parede, enfeitar uma prateleira - juntar o Padre com a Freira, por exemplo.


Mas onde eu queria chegar, é que dá para encomendar à artesã um modelito personalizado para dar de presente a um amigo ou amiga, ou até mesmo para o Maridão. Imagine uma criatura com algumas de suas características: óculos, barba, cabelo grisalho, barrigão, vestindo a camiseta do seu time de futebol, segurando uma vara de pescar...enfim, use a imaginação e deixe que a talentosa Maria crie. E a criação, garanto, sai ainda melhor do que voce podia imaginar.


Atualmente, Maria continua trabalhando meio “off-road”, o que significa que ela apenas se mudou para mais pertinho do centro de Araras, mas ainda mantém seu ateliê um pouco escondidinho, um pouco afastado da beira da estrada. Numa casinha rústica, ela coloca em display as suas mais diversas obras de arte e artesanato, reciclando latas, garrafas e outras cositas mais. Vale a pena ir visitar este cantinho cheio de objetos coloridos e idéias originais. Com certeza voce vai acabar encontrando alguma coisa pra dar na Páscoa . Quem sabe voce encomenda uns ovos de papel machê....

Maria 2000
Estrada Bernardo Coutinho 1717, Araras
24 2225 8495
Maria2000_10@bol.com.br

25.3.10

Insólito: o mais chique hotel de Búzios, da condessa Emmanuelle de Clermont Tonnerre


Por Alexandra Forbes, colaboração especial

Búzios.... duas horinhas de estrada do Rio, mas um mundo de diferença. Hoje completamente transformado, o antigo vilarejo de pescadores tem pedaços lindos, outros nem tanto, desenvolvidos demais e sem cuidado estético.

Tenho muita curiosidade de conhecer o hotel atualmente considerado o mais chique de Búzios. É chique por bom motivo: a dona é a condessa Emmanuelle Meeus de Clermont Tonnerre, que passou a infância nos castelos das famílias materna (Esquelbecq) e paterna (Bertanges). Casada com o magnata belga Philippe Meeus, que tem negócios no ramo etílico (etanol puro e também bebidas), ela se apaixonou pelo Brasil sete anos atrás – por isso abriu um hotel butique em Búzios, o Insólito.

O hotel tem vista para a Praia da Ferradura e quartos temáticos inspirados na cultura brasileira. A arquitetura original é de Otavio Raja Gabaglia, com reforma de Luis Fernando Grabowski. Anouck Barcat e Maneco Quinderé cuidaram do paisagismo e da iluminação. A decoração é assinada pela própria Emmanuelle.

O chiquê ali é total: roupões e lençóis de algodão egípcio Trussardi,  chaveiros assinados pela grife Francesca Romana Diana, tevês imensas e iPods nos quartos, etc.

O Insólito tem duas piscinas à beira-mar (uma de água doce e outra de água salgada), saunas seca e a vapor, ofurô, jacuzzi e salas de ginástica e massagem.

Todos os quartos dão para o mar. As top suites são:

- SUÍTE ORFEU DA CONCEIÇÃO

Inspirada na peça homônima escrita por Vinicius de Moraes, em 1954, com trilha sonora de Tom Jobim.



 E a vista da suíte:







SUÍTE O GUARANI – Inspirada na ópera de Carlos Gomes. Uma fotografia de raiz de árvore da etnóloga Claudia Andujar é peça central do décor.

 







No fim de 2009 foi inaugurado um lounge com cabine de DJ e deck gigantesco cercado de plantas tropicais. Tendas marroquinas e banheiras de ofurô completam o look.


Insólito
Praia da Ferradura – Rua E1 - Lotes 3 e 4
Condomínio Atlântico
Búzios
Tel.  +55 22 2623 2172

24.3.10

Saudades da terrinha : carioca sente falta do Rio

por Antonella Kann


Carioca quando viaja tem mania de ficar com saudade do Rio. Compara tudo pra depois dizer que lá é mais bonito. E´...vamos combinar, a cidade tem mesmo todos os atributos e qualitativos pra ser maravilhosa, como reza o enredo. Só que a gente só se dá conta disso quando engatamos um olhar seletivo. Que nem jornal quando voce não quer se irritar: basta ler só noticia boa. E, o Rio tem sim, muita coisa boa.



Vista panorâmica. Essa todo mundo conhece...
Lá vai mais um cartão postal, estilo fotografia do Von Peter Fuss. Pra quem nunca ouviu falar, o carinha era alemão, oficial da Luftwaffe , ou seja, discípulo de Hitler. Mas, assim que chegou no Rio em meados da década de 30, se encantou pela cidade e também com uma carioca da gema, e casou com ambas. E nunca mais falou em regime nazista, muito menos em casa. Foi curtir o Rio com a sua camera, até morrer, em 1957. Melhor assim, não?


Tomar água de côco na Prainha. Qualquer um merece. Dia de semana, esta praia de surfista fica menos lotada. E é sem duvida uma das mais charmosas do Rio, por ser pequena e aconchegante. Não dá pra fazer grandes caminhadas, mas quem é que tem pique neste calor ?


Essa bola laranja que surge no horizonte, chamada de Sol pelos íntimos, é um brinde para quem acorda cedo ( ou quem está voltando da nite). Neste exato momento, passava um pouco das 6. Já diziam que Deus ajuda a quem madruga. Mas, não vai achando que isso é todo dia, não...



Pão de Açúcar. Quando gringo bate de cara com um cartão-postal deste calibre, a gente tem que admitir: não é à toa que eles ficam babando. E´, carioca pode achar brega fazer programa de turista, subir no bondinho, até porque, como comentava a nossa blogueira Constance, é inacreditável que lá em cima não tenha sequer um lugar para se comer um sanduíche decente. Não está na hora de algum piloto de fogão abrir um sofisticado restaurante “with THE view” ????? Só mesmo no Rio, onde quem sobe tem que se alimentar somente daquela vista maravilhosa. Ou levar piquenique. Tem cabimento? Alô, Chefs !



Kite surfe, paddle, mil esportes naúticos, ai que vontade de cair neste mar. Neste verão, os cariocas foram brindados com águas a 25 graus, transparentes e calmas. Esse vento aí só entrou em março.



Quando a gente está viajando, sente falta até de praia lotada de domingos.


E das belas avenidas Vieira Souto e Delfim Moreira....Felizmente, aos domingos, se tornam parcialmente pedestres. Só de poder andar o dia inteirinho de havaianas...



Tá bem, tá bem... E qual é o carioca que não fica morto de saudades dos seus bichinhos de estimação?



E vou parar por aqui de encher linguiça, que o que sinto falta mesmo é de um bom pastel!














































































Bookmark and Share



























15.3.10

Praias: shopping a céu aberto ( e bota aberto nisso!)



por Antonella Kann/ fotos Maria Herminia Donato /AK

Imagine um sol de rachar, uma água translúcida, um mar que parece uma piscina e voce dividida entre ir à praia e pegar aquela cor ou ir às compras num shopping center. Já pensou se fosse possível conciliar as duas coisas ao mesmo tempo? No Rio de Janeiro, já é.
Explico: enquanto aproveitava os 42 graus do verão carioca para dar uns mergulhos e não deixar o bronzeado ficar pálido, reparei que a cada dia que passava apareciam mais vendedores ambulantes zanzando pra cima e pra baixo na areia quente, oferecendo tanta variedade de mercadorias e apetrechos que resolvi até documentar.

Ou seja, passei a levar não apenas a máquina fotográfica pra praia como também uns trocados. Quando digo trocados, é nota de 5 , 10 e 20 reais, pois nada fica caro e, claro, tudo se barganha. Mas aí voce vai perguntar: mas o que é que vamos comprar na praia? Então vamos lá: dividimos a parte comestível – que sempre existiu – com o resto. Do tipo, desde protetor solar a bolhas de sabão, por exemplo....( E´, bolha mesmo, daquelas que voce sopra...diversão garantida...)


Aquele vendedor de mate, o sorveteiro e o cesto com sanduíches naturais, todo mundo conhece. Claro que a água de coco e a cerveja continuam como figurantes em qualquer cenário, então deles nem se fala. Agora existem sucos, empadinhas, kibes e esfihas, queijo de coalho na brasa ( antes exclusividade das praias lá do Nordeste) e outras iguarias esporádicas ( e proibidas) como camarão no espeto ( pessoalmente, confesso que não teria mais coragem de comer isso sob o sol escaldante).



O tal “resto”, que mencionei acima, são as coisas mais incríveis que se pode imaginar. A praia virou, literalmente, um shopping a céu aberto, um comercio ao ar livre onde vendem-se vestidos, túnicas, lenços, jóias, cangas e, claro, biquínis. Quanto a este último item , eu me surpreendi observando a ala feminina “ experimentando” os tops – ou partes de cima – por cima dos próprios, sem a menor ceremonia. Estilo carioca de ser...




Chapéus, bonés, óculos escuros, imensos balões coloridos, brinquedos ( vá que voce esqueceu os baldinhos e pazinhas do seu filho em casa). Ah, ia me esquecendo: quer fazer uma tatuagem de henna ? De vez em quando passa um artista especializado.



Só não vi revistas e jornais... Mas, quem sabe alguém surge com uma idéia pra incentivar o hábito da leitura na praia ? Ainda mais agora que existem barracas coloridas e cadeiras de alumínio a vontade que é pra ninguém pegar insolação. Aliás, estes dois itens que coloriram todas as praias cariocas neste verão, me parecem que vieram pra ficar. Estilo Riviera italiana....




12.3.10

Locanda della Mimosa: (ainda) em plena forma

Por Constance Escobar

Danio Braga é um nome que dispensa apresentações no meio gastronômico no Brasil. Ajudou a abrir caminhos pra mudança da relação do carioca com a gastronomia através de seu lendário restaurante Enotria, em Copacabana. Fundou a Associação Brasileira de Sommeliers e trouxe o vinho pra mesa do brasileiro. Depois resolveu se mudar pra serra fluminense, onde, há anos, comanda a Locanda della Mimosa, pousada que abriga um dos restaurantes de mais prestígio no país, a cerca de uma hora de carro do Rio. Trata-se de uma das seis casas premiadas com as três estrelas do Guia Quatro Rodas, a única fora das capitais Rio-São Paulo. Tudo isso porque eu tinha dito que Danio dispensava apresentações...

Ano passado circulou, causando espanto, a notícia de que a Locanda della Mimosa estava à venda. De lá pra cá, muita especulação em torno do assunto. Mas, o fato é que, enquanto a venda não se concretiza, Danio continua lá, comandando os fogões e fazendo as honras do salão. De certa forma, é triste ver um gigante caminhar para uma espécie de morte anunciada. Por outro lado, como é bom perceber que não se permitiu que casa perdesse uma faísca sequer de seu brilho. Continua em forma e, ao que parece, assim será até seu último dia.

O cenário é lindo. Um belo casarão cercado pela natureza. O salão continua admirável na sua elegância clássica (talvez um pouco datado, mas, nem por isso, menos elegante). O serviço permanece impecável. Enfim, tudo como antes.

O que sai dos fogões também mantém a excelência que sempre foi marca da casa. Pratos clássicos bem executados. Como o orechiette com alho, brócolis e pecorino. Simples e delicado. Igualmente delicados, mas ainda mais saborosos, os ravioles de peito de boi no vinho tinto com creme de feijões brancos e crocante de alho poró.

O rocambole de escalopes de vitela com ragu de feijões tinha personalidade e leveza ao mesmo tempo. O delicioso charuto de massa philo recheado com ossobuco vinha acompanhado de um sensacional purê de baroa que Robuchon poderia assinar.

Num anticlímax, as sobremesas vieram um tom abaixo do restante. Aliás, alguns tons abaixo. A cassata de chocolate com mousse de amêndoas era uma bobagem. A espuma de torrone com doce de figos se saiu bem melhor, mas também não chegou a brilhar.

Antes de irmos embora, fomos brindados com um delicioso mimo: mousse de café com leite e chantilly e cubinhos de chocolate com marshmallow.

Peguei a estrada de volta pra casa, feliz em perceber que a Locanda está exatamente como eu a tinha deixado da última vez em que lá estive, há alguns anos. Pelo menos, por enquanto.


Locanda della Mimosa – Alameda das Mimosas 30
Vale Florido - Petrópolis
www.locanda.com.br


Comentários:


Bookmark and Share