4.10.10

O famoso cochinillo do Parador Valencia, em Itaipava

Por Constance Escobar

Cheguei ao Parador Valencia pelas mãos de um amigo querido, que é também amigo de longa data de Paquito, dono do Parador. Foi quem me apresentou pessoalmente a essa grande figura que fez tradição na serra fluminense. E foi na companhia dos dois que ali almocei numa tarde de sábado, há poucos meses. Uma tarde repleta de boa comida, belas estórias, algumas risadas e muito calor humano. Fica claro, então, que o relato que faço aqui não teria como ser totalmente isento. Mas como penso que gastronomia e afetividade guardam entre si uma relação essencial, é esse o valor que julgo terem as linhas que agora escrevo. Nem mais, nem menos.

Paquito é um valenciano orgulhoso de sua terra. Desanda a falar de sua Espanha natal e ninguém ousa pará-lo. Fala de política, de cultura, de gastronomia com um domínio invejável. E conta de forma deliciosa as estórias de sua família. Tudo isso se traduz nas paredes do Parador, repletas de fotos e objetos cheios de significados. Não há paredes – ou vidas – vazias naquele lugar. Trata-se de um ambiente “habitado”, como é, afinal, a alma de seu dono. Que, aliás, mora ali. O restaurante é uma extensão de sua casa, como é tão comum acontecer no interior da Europa. E isso faz toda diferença.

O cenário, portanto, já compensa a visita. Mas, não havia incautos entre nós e estávamos ali com um claro objetivo: devorar um belíssimo cochinillo, leitãozinho abatido com poucos dias de vida, que, assado com maestria, é um dos pratos típicos da cultura gastronômica espanhola, mais precisamente da cidade de Segóvia. Até beliscamos algumas tapas: presunto ibérico, chorizo, nacos de manchego, um delicado pil-pil com lascas de bacalhau... Mas nada nos distrairia do prato principal.

O cochinilllo chegou à mesa como manda o figurino. Inteirinho, dos pés à cabeça. Eu confesso que faço parte do time de amadores que ainda se impressiona um pouco com essa exposição do animal, mas não passei recibo. Afinal, em casa de Paquito não se admitem essas frescuras.

O cozinheiro, orgulhoso de suas raízes, destrincha com habilidade o bichinho que, rapidamente, está a nos arrancar gemidos, diante do sabor da carne e da perfeição da pele crocantíssima cobrindo uma generosa camada de gordura (o que os mineiros chamam de pururuca), numa das mais deliciosas formas de se levar o colesterol de um mortal à ruína.

Preciso, agora, voltar pra experimentar a famosa paella da casa. Especialmente, agora que sei que Paquito ainda conserva em sua cozinha uma paellera de mais de um século, que seus antepassados já usavam no preparo do prato em Valencia. O que só confirmou meu sentimento ao entrar naquele lugar: quem vai ao Parador Valencia tem boas chances de sair dali não apenas alimentado, mas, acima de tudo, enriquecido.


Parador Valencia – Rua Celita de Oliveira Amaral 189 – Itaipava (entrada pela Estrada União e Indústria 11.300)
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