Por Constance Escobar
Desde que o lindíssimo Hotel Santa Teresa abriu as portas, seu restaurante Térèze deu o que falar. Em grande parte dos casos, não se disse boa coisa... Ouvi tantos depoimentos ruins sobre o lugar que resolvi esperar antes de visitá-lo. Pra ver se as coisas se colocavam nos eixos e eu não perdia a viagem.
Assim fiz. Dei tempo ao tempo. Comecei a ouvir alguns comentários de que a cozinha havia amadurecido. Li aqui e ali algumas matérias interessantes sobre o senso criativo do chef Damien Montecer, que comanda os fogões. Achei que era chegada a hora. Ledo engano. Talvez a hora do Térèze não chegue mesmo... Porque em tudo o que vi e ouvi por lá nesse meu almoço, fiquei com a sensação de que a casa tem mais pretensão do que consistência.
Classificado nos guias da cidade como restaurante de alta gastronomia, o Térèze tem uma estampa respeitável: dentro de um dos hotéis mais lindos da cidade, acompanha o bom gosto que rege o projeto. Salão amplo e cheio de luz natural. Janelões com vista pro casario do bairro. Projeto todo em madeira de demolição, com belíssimos móveis desenhados pelo mineiro Rock Lane. Enfim, de tirar o chapéu.
O problema é que a satisfação se encerra no ambiente. Para além dele, a casa me parece que não tem muito a oferecer. O serviço, apesar de cortês, é fraco. Falta informação onde não pode faltar. Sobra onde não deveria... Ao abrir o cardápio e bater o olho na pissaladière, elegi minha entrada. A informação veio a galope: “Ihhh. Tá no cardápio até hoje, mas já não é servida desde a segunda semana do restaurante”. Naturalmente, perguntei: “Então por que está no cardápio?” Aí faltou resposta...
Prossegui e fui descobrindo que alguns dos pratos estavam, temporariamente, em falta. Já com um pouco menos de boa vontade, fui em frente. A entrada escolhida, “Cabra-pará”, trazia mini-verdes (que não chegavam a compor uma salada como a carta sugeria), um delicioso queijo de cabra empanado em castanha-do-Pará, num belo contraste com nacos de figo e um sorvete de figos que era ótimo, mas que acho que ficaria melhor como sobremesa.
No risoto de cogumelos com queijo minas curado do Sítio Solidão, faltava sabor e cremosidade.
Nos rigatonis, o reblochon, os portobelos grelhados e o magret defumado davam bom sabor ao prato, mas o molho um tanto pesado e a massa industrializada sugeriam mais uma cantina do que um restaurante de alta gastronomia. Acho que uma cozinha que se diz de alta gastronomia deveria ter o cuidado de fabricar artesanalmente suas próprias massas. No meu prato, a certeza de que a massa era industrializada veio no olhar. O paladar apenas confirmou o que eu já sabia. Ainda assim, pra não ser leviana, indaguei. A resposta veio prontamente: “É fácil de encontrar em qualquer mercado”.
O único prato da mesa que veio realmente bom foi a costela com foie gras e maçãs caramelizadas.
Será que teríamos mais sorte com as sobremesas? Assim eu esperava, pois já havia provado no bar do hotel (o Bar dos Descasados) os Lolipops de chocolate do Térèze, que achei incríveis. Mas não. Naquele almoço estávamos fadados ao brinde com a insatisfação. Pedimos o mix com pequenas porções de várias sobremesas do cardápio. E eis o que recebemos: uma torta de limão meia-boca, uma rabanada com manga e lichia massuda e ruim, um petit gâteau seco e sem graça e, com alguma sorte, bons sorvetes e pirulitos de macarons de chocolate que nos salvaram da decepção total.
Resumo da ópera: saí de lá R$135,00 mais pobre (valor per capita - fora o vinho - numa mesa de quatro pessoas) e com aquela amarga sensação de que perdi a viagem.
Térèze - no Hotel Santa Teresa
Rua Almirante Alexandrino 660 – Santa Teresa
www.santateresahotel.com